27 de mar. de 2012

“Deixando ir... permitindo à vida fluir”

 “Tenha fé na sua natureza.
Não deixe seus pensamentos ‘galoparem por aí’ à procura de algo que nunca perderam, e que está ‘exatamente diante de vocês neste exato instante’” *


A natureza se expressa na multiplicidade da forma, regida por ciclos em ritmos cadenciados, seguindo o fluxo sem resistência, num movimento natural e espontâneo a que chamamos sábia inteligência, pois respeita, acessa e se nutre livremente da energia primordial: a energia-Luz do Sol!

    Nós também fazemos parte desse Sistema Solar e somos influenciados por todos os ciclos que regem essa natureza inteligente.
    Assim, quando reconhecemos e respeitamos essa mesma natureza intrínseca em nós, passamos a atuar de acordo com essa Ordem natural da vida e, desse modo, simplesmente a vida acontece, com o acolhimento de todo aprendizado que ela contém.

    Contudo, diante desse “experienciar a vida”, muitas vezes, movidos por nossos desejos e medos humanos, vamos construindo “auto-estradas”, asfaltando-as com pedriscos e pedregulhos que “encobrem” esse solo natural, enrijecendo o caminho, como armaduras de proteção.
    E, assim, também, nossas potencialidades e talentos originais acabam “encobertos”, adormecidos... E, então, para colocá-los a serviço e atividade, precisamos romper as próprias barreiras auto-criadas, pois ao sairmos do “caminho suave da simplicidade”, a complexidade toma forma quando nos afastamos da nossa verdadeira natureza - nossa fonte primordial de energia.

    Chega um tempo, porém, em que é preciso retornar às origens naturais, independentemente do caminho que tenhamos tomado nas ‘estradas da vida’; e isso requer a força e a coragem para rompermos o solo enrijecido.

Então precisamos “deixar ir” todos os aspectos e situações que um dia se configuraram como dificuldades – nos servindo de impulso transformador - transmutando-as em potencialidades, “permitindo o fluir” dos talentos de nossa verdadeira natureza. Para, assim, realizarmos a missão que viemos cumprir como almas, na materialidade da forma.

    Pois, “as provações do passado se tornam passagens que nos ligam à humanidade e à natureza. Lembranças do passado, agora, são resgatadas por meio da poesia quando contemplamos o sentido da vida e encontramos maneiras de introduzir na cultura humana tecnologias com base na emissão de luz” em forma de amor. (Cura Vibracional prática)

    O artigo de hoje é inspirado e dedicado à sensibilidade de Elice Carneiro, revelada na foto deste ‘post’ e no texto que se segue, sinalizando esse movimento de retorno às nossas origens naturais, realizado de forma tão espontânea pela sábia natureza elemental, como um exemplo a ser seguido por nossa humanidade:

“Fiz esse registro em Caldas. A imagem é bem simples; achei a cena muito profunda e parei para registrar. O simbolismo de força e coragem dessa plantinha é muito impressionante! Ela nasceu e floresceu (lindamente) em uma frestinha entre o asfalto e a calçada! Remete a reflexão que mesmo nas situações mais adversas, se tivermos força e coragem para nos lançarmos à luz, conseguiremos prosperar e florescer!

Quantas vezes nos perdemos em nossos próprios medos e incertezas; nos deixamos convencer de que não existe solução para as situações, e assim nos prendemos às nossas “zonas de conforto” abandonando o contato com a nossa própria luz... e, dessa forma ficamos estagnados...

Olhar o exemplo dessa plantinha é fantástico, pois ela teve força e coragem de superar todas as incertezas, saiu da zona de conforto, guiada pela luz; e então prosperou e floresceu em meio ao um terreno totalmente inóspito! A natureza é sempre sábia e fantástica...
(Elice Carneiro)


“Deixe a vida fluir” - Ramesh S. Balsekar - Theba book

20 de mar. de 2012

“Integração e Cura”

“TODO”
“Todos nós somos estrelas especiais e brilhamos em conjunto para a manutenção da alegria e harmonia próprias e ao nosso redor”.
(Elice Carneiro)


Quando o foco do olhar não se volta mais às limitações da forma, geradas pela estreiteza da mente e, a voz do coração torna-se audível a partir do silêncio que brota dentro de si...
... o olhar transcendente é ativado pelo poder do perdão - pois a mente agora está desperta e o coração livre e, então, podemos descobrir a verdade que reside por trás de todas as formas e situações.

E, este olhar torna tudo mais claro e nítido, como um grande farol dentro de nós que ilumina tudo em nós e ao nosso redor, incluindo todas as polaridades: revelando muitas coisas, que um dia nos recusamos a olhar e, ao mesmo tempo, delineando formas tão coloridas e belas, que um dia sequer imaginávamos vislumbrar!

E, quando tomamos a coragem de viver sob a luz desse novo olhar, onde conciliamos em unidade, duas idéias aparentemente opostas, um novo paradigma passa a reger a nossa vida, pois em aceitação à ordem natural de tudo o que É, abrimos mão de “encontrar soluções” para sermos apenas “uma testemunha amorosa das polaridades” que tudo organiza, ilumina e faz compreender.

Assim, a partir da ampliação dessa nova lente que concilia mente e coração, transformamos “a ignorância inconsciente na consciência de que todo universo está vivo e consciente” e de que todos os seres estão conectados como células de um grande corpo, nessa infinita rede multidimensional.  

E, quando nos reconhecemos como células integrantes de um grande corpo, a mágica da consciência desperta faz revelar uma nova forma de viver, pois “ficamos conscientes das outras pessoas por intermédio de nós mesmos”, uma vez que “transformamos a inconsciência na consciência completa de todos os aspectos do nosso próprio ser”.

É a bênção da reconciliação que se reflete do micro ao macro: do “eu comigo mesmo” para o “eu com o outro” e todas as situações que nos envolvem. E, a partir daí, amplia-se à visão de reconciliação entre matéria e espírito, céu e terra – desconstruindo-se a visão da separatividade, que um dia nos levou ao sentimento de dor, sofrimento, como uma chaga que originou tantas feridas, para agora construir uma nova visão de inclusão, totalidade, Unidade e cura. 

    Então, caminhamos para nos tornar seres mais plenos e inteiros, onde podemos:

... ser autênticos com os princípios e sentimentos mais internos, sem nos corromper às próprias expectativas ou às expectativas externas
... nos apropriar do discernimento intrínseco realizando sábias escolhas pautadas no equilíbrio que provém da voz da alma
... nos libertar do rigor que entristece, enrijece, imobiliza e impede o movimento do andar para então, poder caminhar livremente com os próprios pés e voar com as próprias asas,  resgatando “o próprio poder inerente de aprender e de libertar-se das dificuldades”
... promover a própria cura no acolhimento afetuoso diante das imperfeições da matéria para revelar todo potencial latente, para, enfim,
... manifestar a alegria de viver, sem medo de ser feliz!

“Quando já não estamos mais nos escondendo de nós mesmos, nem dos outros, numa atitude de abertura e aceitação poderemos ser curados, e ajudar outros a serem também saudáveis e inteiros”
(O Tarô Zen de Osho)


* Gratidão a Elice Carneiro pelo compartilhar de sua ilustração inspiradora.

13 de mar. de 2012

Plenitude no Vazio

“Existe um mundo concreto, percebido pelos sentidos, com todas as suas imperfeições; mas além dele existe o outro mundo que contém formas imutáveis e perfeitas.”

“Plenitude no Vazio” - apesar da aparência paradoxal, o sentido além das palavras nos convida à percepção da Unidade que reside em tudo o que É.

Como seres humanos portadores da dualidade, somos ao mesmo tempo - forma e essência – uma parte sempre em busca de um pertencimento que nos integre à totalidade do Ser Essencial.

Porém, enquanto focados apenas na forma da materialidade, podemos nos sentir, sob inúmeras circunstâncias, seres separados ou independentes do Todo sistêmico.
Onde, a palavra “vazio” - sob este ponto de vista da forma - nos promove apenas sensações que os cinco sentidos permitem, contornando ou limitando a forma concreta, sempre mutável em seu ciclo de vida e morte.

Contudo, sob a ótica da essência, esses limites vão sendo ampliados, a partir do momento em que reconhecemos, contidos neste mesmo “vazio”, o “essencial” como tudo aquilo que é eterno e imutável, na recordação “das formas perfeitas com as quais a nossa alma estava em contato antes de se juntar a um corpo”.

E, assim, conforme transitamos e integramos os diversos níveis de nossa consciência, o “vazio” percebido pela consciência focada na forma que nos fazia prisioneiros na limitação dos sentidos da materialidade, vai se transformando em “plenitude”, conforme a consciência se concentra na essência que permeia todas as coisas, ampliando a nossa sensibilidade em direção ao incognoscível.

Então, nos sentimos gratos, quando a sensação de vazio vai sendo preenchida pelas qualidades imutáveis e perfeitas que trazemos como reminiscências de nossa origem primordial, que retornam às formas verdadeiras em nossas relações na Terra como: gratidão, afetuosidade, amor, alegria, firmeza, coragem, reverência – ‘formas’ reluzentes e coloridas, como as cores do arco-íris que representa a essência divina que habita cada ser, nessa foto de Eliza Carneiro, gentilmente cedida para esse compartilhar.

Minha avó, em nossas conversas, sempre se pergunta, e, também me questiona, sobre o que ela estaria deixando para os seus descendentes no cumprimento de seu propósito.

 E, digo a ela:

- A melhor herança você já distribui em vida, no exemplo de como você escolhe viver: com delicadeza e elegância firmes, na postura de quem não tem medo de enfrentar a vida, pois trouxe em si o espírito de sumimasen - como forma de respeito e reverência a toda vida; gaman - como a força da fé na Vida que lhe foi concedida; arigato – como sentimento de gratidão que tudo transforma e, por fim, kokoro – que promove a redenção que brota da compaixão que a liberta do aprisionamento da forma, para simplesmente exercer o Ser essencial, aqui na Terra. E, é assim que a vejo – um Ser Essencial que transcende a forma, a cada despertar que a sua história proporciona.

Afinal, o que fica, apesar do “vazio” que um dia ocupamos enquanto forma, é o que permeia as relações que estabelecemos com o todo e que as tornam “plenas” de sentido para o propósito a que vieram realizar.

Sumimasen - desculpe, sinto muito, com licença
Gaman - aguentar, suportar
Kokoro - coração, mente, essência
Arigato - obrigado, gratidão

7 de mar. de 2012

“Linguagem além dos sinais, percepção além da forma”

* "Bosque das Cerejeiras - Parque do Carmo"

“Nada no mundo da forma é permanente.
A aceitação da impermanência da forma faz revelar a essência que a sustenta para cumprir o seu propósito.”
(Diário de Construção do Espaço Matrix)


    “Todas são... PERFEITAS...”, essa foi a última fala d’“O Último Samurai” no filme de mesmo nome, representado pelo ator Ken Watanabe, ao se reportar às flores de cerejeira - que voavam, desprendidas e livres ao vento - no momento de seu último suspiro quando encontrara a resposta para uma das questões reflexivas em sua experiência de vida:

"A flor perfeita e rara, podemos esperar a vida toda para encontrá-la e mesmo assim não seria um desperdício."

    Divina forma poética para retratar a existência da essência perene além da aparência de toda forma.

Mas, afinal, não precisamos morrer na forma para compreender que, em essência, também somos todos perfeitos, independentemente dos invólucros que trouxemos para serem lapidados na vida.

    Cada um de nós, na transitoriedade da vida na Terra, chega com desafios diversos, contudo, existe um objetivo que nos é único: revelar a perfeição da nossa essência divina, na forma. 

    E o que define a conclusão desse propósito em êxito é como cada um de nós, com o nosso livre arbítrio, escolhe viver sua própria vida - nossa exclusiva responsabilidade.

    KOKORO é uma das qualidades que provém da cultura oriental que pode nos orientar nessa empreitada - e, para a qual há pouco tempo despertei em entendimento buscando, a partir de então, colocá-la em prática como norteador de minhas atitudes, ainda que não seja fácil tarefa. 

    E, ainda que eu não saiba traduzi-la, dentro da minha percepção, o termo Kokoro – soa como algo intrínseco “aqui, dentro do coração”; e, no sentido figurado representa a sensibilidade que faz enxergar além do próprio olhar e consegue sentir através da lente do outro. 

    Pois, em nossa ilusória solidão nos tornamos, muitas vezes, tão egocêntricos com o nosso próprio olhar, pensar e sentir, que perdemos a chance de revelar a Unidade, diante de uma relação oportuna.
Onde continuaremos em nossa solidão, enquanto ignorarmos as relações, exatamente como se apresentam. Enquanto não estivermos disponíveis a exercer o kokoro que “promove a sensibilidade suficiente para nos fazer sair de ‘si mesmo’, de nossas necessidades pessoais e nos colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada”(*) .

Se pararmos apenas um instante para uma reflexão interior, perceberemos o quanto deixamos de crescer e evoluir, por ainda permitirmos ser movidos pelas conveniências ou nossas fragilidades ao invés de nos render às nossas verdades mais internas que são, essencialmente: amor, sabedoria e discernimento nos guiando ao poder de realizar.
Pois quando somos capazes de olhar e acessar essa perfeição que reside dentro de nós como fator intrínseco, mais facilmente seremos capazes de olhar essa mesma perfeição por detrás da forma em cada pessoa ou situação, suprindo as reais necessidades em beneficio do todo.

E, quanto de nossa atenção é dispensada, verdadeiramente, às nossas reais necessidades e, também às do ‘outro’?

Quando percebemos as ressonâncias, tanto da dor quanto do amor ‘alheios’, sem identificações que nos aprisionem, desvendamos os véus que encobrem nossos verdadeiros sentimentos diante daquelas situações, fazendo emergir ações pautadas no discernimento e na criatividade que tudo organiza.

Então, nossas verdadeiras necessidades são acolhidas, a partir do momento em que nos questionamos: “O que essa pessoa ou essa situação vêm me revelar? Não apenas sobre ela ou o outro, mas principalmente sobre mim mesmo?”
E, respondendo melhor às nossas próprias necessidades, aprimoramos nossos olhos, ouvidos e coração para atender melhor às necessidades do próximo em nossas interações relacionais.

Assim o kokoro vai desabrochando no nosso modo de caminhar pela vida, facilitando o cumprimento da nossa meta em manifestar a perfeição - nossa essência divina – na Terra, quando passamos a compreender “a linguagem além dos sinais, percepção além da forma”. 

Parafraseando a Monja Coen: “Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas”(*), pois grande parte desse despertar para um novo entendimento me remete às minhas raízes orientais, trazida à tona pelo privilégio do convívio com meus avós – maternos e paternos, especialmente a minha avó materna, minha “última referência mais ancestral”, a quem sou grata e reverencio, bem como a toda forma de vida, em sua mais “pura perfeição” – essência Divina.

Após o tsunami de 11 de março, trecho de um relato de Monja Coen, sobre o Japão:
“Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer: todas.  Todas eram e são pessoas de meu conhecimento.  Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.  Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho)
Monja Coen”

(*)JAPÃO, por Monja Coen – em 11ª Meditação – Oportunidades de Prática

* Créditos da Foto: Sueli Nonaka