3 de jul. de 2012

“Tecendo a Linha da Vida vou re-colorindo cada pedacinho com as cores da Alma”

 Foto de Eliza Carneiro 


Esse clima apropriado no início das férias de inverno nos convida a uma pausa de introspecção, de recolhimento. Onde buscamos nos aquecer no aconchego da manta, da lareira, da vela, do chocolate-quente...

Essa manta que ilustra o artigo dessa semana me traz à memória recordações de minha avó materna – ainda que esta, especificamente, não tenha sido tecida por ela - e me conduz delicadamente nessa viagem de introspecção.

Também me faz refletir sobre os talentos e as virtudes que herdamos - antes, de nossa Origem Divina – fonte que alimenta toda a herança contida e trazida pelas nossas famílias de origem na Terra.

Então, paro para perceber:

Quanta riqueza, quanta beleza nas cores tecidas numa manta!!
Quantas habilidades! O cuidado, a concentração, a atenção, a escolha das cores buscando compor a harmonia no trabalho manual que, analogamente, é o mesmo movimento que realizamos na busca da composição da harmonia em nossa própria vida, nessa estadia transitória e fugaz.

Quantas reflexões, no momento em que, através da arte manual, entretidos, “cá, com nossos botões”, reconhecemos e assimilamos as nossas angústias para transformá-las num novo padrão.  Onde, a cada quadradinho que se faz da manta, uma peça do quebra-cabeça vai se acomodando... organizando sentimentos e pensamentos que correm soltos dentro de nós, diante do caminhar solitário nas nossas profundezas.

Talvez, essa tenha sido uma das inúmeras formas a que a forma serviu para desenvolver tanta Percepção interna e Sabedoria em minha avó materna, filha única de um casal de imigrantes, que não apenas tecia a linha da sua vida através dos lindos trabalhos manuais, mas também tecia novos registros de sua história, em contínua transformação, através da escrita em seu diário, na busca de novas compreensões e significados – ambas qualidades que cultivo e às quais sou grata aos meus ancestrais, especialmente, à minha avó materna.

De minha avó paterna, cujo contato me foi breve, acolhi a Fortaleza e a Solidez, que contrastavam com o seu tipo físico, frágil e delicado, que guardo em minhas lembranças – aspectos aparentemente opostos, mas que nesse novo contexto, encontram equilíbrio, harmonia e sabedoria. E, me ensinam que a vida é leve e plenamente realizável, quando nos apropriamos da composição de força da vontade com suavidade e delicadeza.

De meu avô materno, aprendi sobre o desprendimento com o passado e com o futuro, na sua forma de seguir em frente, sem apegos, para ser livre no presente. Essas impressões pessoais se tornam verdadeiros presentes quando, a partir da beleza do encontro, do convívio, percebemos como os caminhos se tocam e nos tocam em novas percepções e aprendizados, advindos de nossa própria historia familiar, nesta releitura amorosa que nos permite re-significados de crescimento.

De meu avô paterno, apesar de seu porte austero e postura sempre ereta, herdei a delicadeza e a flexibilidade da poesia, na forma como vejo a vida, assim como na forma que ele compunha seus haicais (*).

Namastê – o Cristo que habita em mim, reverencia o Cristo que habita em cada um de vocês.

                E, assim como tantas mantas e casacos tecidos por minha avó materna, ainda hoje, me aquecem do frio, essas lembranças que acabo de resgatar, trazendo à consciência, também podem fazer o calor da alma se revelar em minha vida, transformando-a em novas cores e novos sabores, onde feminino e masculino, calor e frio, luz e sombra encontram novas composições de complementaridade, reconstruindo a unicidade.

A foto da manta colorida contrasta com o clima frio e as cores gélidas do inverno, mas serve para nos mostrar que, os aparentes contrastes em nossa vida estão em perfeita ordem.
Muitas vezes, o desconforto que o “frio” promove, serve para nos lembrar que temos “o calor” do manto interior para nos aquecer.

E, assim como o calor contido no colorido de uma manta pode nos aquecer o corpo, o calor e as cores das virtudes da nossa alma, quando reveladas na matéria, podem aquecer a nossa vida com tamanha riqueza que nenhuma herança material poderia substituí-la, pois que são heranças intrínsecas que não se desgastam e nem se perdem com o tempo. Ao contrário, atravessam gerações e multiplicam-se a cada expressão de seu uso em benefício de muitos.

Com essa reflexão, permitimos uma pausa nos artigos do blog até a última semana de férias, para retornarmos, mais aquecidos e coloridos após o merecido recolhimento que o inverno nos proporciona!!

Feliz hibernação!! 
                                                                                         
(*) “HAICAI - Composição poética japonesa, em que se cantam as variações da natureza e sua influência na alma do poeta”.  (http://www.paralerepensar.com.br/catiapaiva_haicai.htm)
 

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