13 de out. de 2011

CORAÇÃO LEVE – no “vazio dos cinco corações” encontramos a Plenitude

* Foto tirada na Meditação do desapego no Espaço Matrix

Vazio e plenitude. Inicialmente, essas duas palavras ressoam como um paradoxo, pois o nosso funcionamento, ainda habituado nos padrões da dualidade - bem e mal; belo e feio; certo e errado... nos limitam na compreensão e na vivência da verdadeira plenitude.

Aprendemos a acreditar que o sentimento da plenitude é consequência de tudo o que adquirimos em bens materiais - dos físicos aos intelectuais. E que, ao alcançarmos essas metas estaremos plenos de alegria, prosperidade e abundância.

Quando então, entramos, mesmo sem perceber, na filosofia de segurança do ter - posses, status e até conhecimentos.
Então nos sentimos ameaçados com qualquer rumor ou tremor nas bases dessa falsa segurança que nos mantém aprisionados, ao tentarmos "proteger" tudo aquilo que consideramos um "tesouro" adquirido.

Nos abarrotamos de coisas que acreditamos serem vitais para a manutenção desse equivocado sentimento de "plenitude", sem nos dar conta de que o grande segredo está exatamente no seu complemento - o vazio - quando ao abrir mão dos valores externos, bem como dos sentimentos equivocados, passamos a nos sentir preenchidos, plenos ... pelo alimento inesgotável dos valores internos que nos provê de tudo o que, verdadeiramente, necessitamos para sermos PLENOS.

Uma tênue linha nos conduz a esse equívoco ao confundirmos crença e fé.
Pois, "a crença limita e a fé liberta",
A crença nos faz acreditar apenas num lado da moeda, buscando apoio na polarização de nossas compreensões humanas. Já, a fé, é a ampliação dessas compreensões, quando reconhecemos nossa essência divina e não nos vemos duais, mas inteiros, numa continuidade que se configura como uma nova identidade, onde espírito e matéria compõe uma unidade.

Então, a partir dessa nova percepção de nós mesmos, podemos ser plenos, estando "vazios" de tudo o que realmente não nos acrescente - avareza, raiva, tristeza, medo, insegurança, culpa, ressentimento, obrigações, apegos - ampliando entendimentos para além da dualidade, que nos permite ver com mais clareza a integração de nossa humanidade com tudo o que existe, como veremos abaixo no texto esclarecedor de Maria Lucia Lee, a quem dedico minha gratidão.


 VAZIO DOS CINCO CORAÇÕES

Maria Lucia Lee

Meus mestres chineses me ensinaram a respeito do vazio dos cinco corações. É possível pulsá-los em todos os exercícios das práticas corporais. Não é um conhecimento que me foi explicado literalmente, em detalhes. Ele vem da tradição oral. Com o tempo, fui percebendo que, além do Coração localizado no centro do peito, os outros quatro estão nos centros das palmas das mãos e solas dos pés. Na mão, as massas musculares ao redor da palma fazem-na ficar em formato de concha, como um vale rodeado por montanhas. Existe uma cavidade energética chamada Palácio do Trabalho (Laogong) no vazio do centro da palma (coração da mão). Ela permite expressar o propósito do Coração em gestos que geram frutos. A estrutura física do pé, com seus arcos, assemelha-se a uma cúpula, em cujo vazio central (coração do pé) há a cavidade chamada Fontes Borbulhantes (Yongquan). É um canal de inter-relação com a potência da Terra, para obtenção da virtude da vontade.
Por isso, nas artes corporais chinesas, aprendemos que o espírito da vitalidade tem a sua morada no vazio do Coração. E do Coração, ele chega às extremidades do corpo, ou seja, vai para o coração dos pés e das mãos. Nesse caminho, vai ocupando todos os espaços vazios,  animando o corpo, que sem espírito, não tem vida!
Mas um Coração abarrotado não tem como abrigar o espírito…
Eu escrevo Coração, com C maiúsculo, porque não estou falando apenas do órgão físico. As pessoas enxergam o Coração apenas como um músculo. Na Medicina Tradicional Chinesa, ele é um campo onde existe a função orgânica, os pensamentos e sentimentos. Quando esse campo fica cheio de raiva ou tristeza, por exemplo, o espírito da vitalidade não tem espaço para habitar.
Devido ao materialismo e à falta de consciência, muitas pessoas procuram preencher os vazios dentro de si ou no ambiente ao redor. Assim, com os espaços abarrotados, o espírito da vitalidade não tem como realizar suas funções de vivificação.
Um dos segredos da longevidade para a Medicina Tradicional Chinesa é comer apenas 80% da fome, pois a função da digestão é realizada no vazio. E ainda falando de vazio, é preciso criar um intervalo para se esvaziar entre uma atividade e outra no dia-a-dia. Porque a serenidade depende disso.
Nas práticas corporais, dizemos que com o coração vazio, tudo pode ser realizado, pois os espíritos conseguem conduzir os sopros (qi), harmonizando-os no corpo. Ao final de uma prática, temos uma sensação de leveza, pois abrimos os espaços internos, desobstruímos e desentulhamos o nosso corpo.
Somos um microcosmo em direção ao macrocosmo: um amplo espaço vazio que contêm todos os astros e estrelas.

2 comentários:

  1. ... nossa Fá ... quanto apreendizado !Adorei !!! ... então essa sabedoria toda já é de familia mesmo, né ?
    Viva os Lee !!!

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  2. Eu a conheci "virtualmente" apenas pelos artigos do blog dela, por intermedio da Tata. Coincidência de sobrenomes, a parte, estamos todos conectados numa rede maravilhosa. Gostaria muito de conhecer a Maria Lucia Lee e o seu trabalho. Entre no link dela pra ver que divino!
    E, Ca... obrigada por seus "insights" que tanto me inspiram... Ativar!!!

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