Foto de Eliza Carneiro
Esse
clima apropriado no início das férias de inverno nos convida a uma pausa de
introspecção, de recolhimento. Onde buscamos nos aquecer no aconchego da manta,
da lareira, da vela, do chocolate-quente...
Essa
manta que ilustra o artigo dessa semana me traz à memória recordações de minha
avó materna – ainda que esta, especificamente, não tenha sido tecida por ela - e
me conduz delicadamente nessa viagem de introspecção.
Também
me faz refletir sobre os talentos e as virtudes que herdamos - antes, de nossa Origem
Divina – fonte que alimenta toda a herança contida e trazida pelas nossas
famílias de origem na Terra.
Então,
paro para perceber:
Quanta
riqueza, quanta beleza nas cores tecidas numa manta!!
Quantas
habilidades! O cuidado, a concentração, a atenção, a escolha das cores buscando
compor a harmonia no trabalho manual que, analogamente, é o mesmo movimento que
realizamos na busca da composição da harmonia em nossa própria vida, nessa
estadia transitória e fugaz.
Quantas
reflexões, no momento em que, através da arte manual, entretidos, “cá, com
nossos botões”, reconhecemos e assimilamos as nossas angústias para transformá-las
num novo padrão. Onde, a cada
quadradinho que se faz da manta, uma peça do quebra-cabeça vai se acomodando...
organizando sentimentos e pensamentos que correm soltos dentro de nós, diante
do caminhar solitário nas nossas profundezas.
Talvez,
essa tenha sido uma das inúmeras formas a que a forma serviu para desenvolver
tanta Percepção interna e Sabedoria em minha avó materna, filha única de um
casal de imigrantes, que não apenas tecia a linha da sua vida através dos
lindos trabalhos manuais, mas também tecia novos registros de sua história, em contínua
transformação, através da escrita em seu diário, na busca de novas compreensões
e significados – ambas qualidades que cultivo e às quais sou grata aos meus
ancestrais, especialmente, à minha avó materna.
De
minha avó paterna, cujo contato me foi breve, acolhi a Fortaleza e a Solidez,
que contrastavam com o seu tipo físico, frágil e delicado, que guardo em minhas
lembranças – aspectos aparentemente opostos, mas que nesse novo contexto,
encontram equilíbrio, harmonia e sabedoria. E, me ensinam que a vida é leve e plenamente
realizável, quando nos apropriamos da composição de força da vontade com suavidade e delicadeza.
De
meu avô materno, aprendi sobre o desprendimento com o passado e com o futuro,
na sua forma de seguir em frente, sem apegos, para ser livre no presente. Essas
impressões pessoais se tornam verdadeiros presentes quando, a partir da beleza
do encontro, do convívio, percebemos como os caminhos se tocam e nos tocam em
novas percepções e aprendizados, advindos de nossa própria historia familiar,
nesta releitura amorosa que nos permite re-significados de crescimento.
De
meu avô paterno, apesar de seu porte austero e postura sempre ereta, herdei a
delicadeza e a flexibilidade da poesia, na forma como vejo a vida, assim como na
forma que ele compunha seus haicais (*).
Namastê
– o Cristo que habita em mim, reverencia o Cristo que habita em cada um de
vocês.
E, assim como tantas mantas e casacos tecidos por
minha avó materna, ainda hoje, me aquecem do frio, essas lembranças que acabo
de resgatar, trazendo à consciência, também podem fazer o calor da alma se
revelar em minha vida, transformando-a em novas cores e novos sabores, onde
feminino e masculino, calor e frio, luz e sombra encontram novas composições de
complementaridade, reconstruindo a unicidade.
A
foto da manta colorida contrasta com o clima frio e as cores gélidas do
inverno, mas serve para nos mostrar que, os aparentes contrastes em nossa vida
estão em perfeita ordem.
Muitas
vezes, o desconforto que o “frio” promove, serve para nos lembrar que temos “o
calor” do manto interior para nos aquecer.
E,
assim como o calor contido no colorido de uma manta pode nos aquecer o corpo, o
calor e as cores das virtudes da nossa alma, quando reveladas na matéria, podem
aquecer a nossa vida com tamanha riqueza que nenhuma herança material poderia
substituí-la, pois que são heranças intrínsecas que não se desgastam e nem se
perdem com o tempo. Ao contrário, atravessam gerações e multiplicam-se a cada
expressão de seu uso em benefício de muitos.
Com
essa reflexão, permitimos uma pausa nos artigos do blog até a última semana de
férias, para retornarmos, mais aquecidos e coloridos após o merecido
recolhimento que o inverno nos proporciona!!
Feliz hibernação!!
(*) “HAICAI - Composição poética japonesa, em que se cantam as variações da
natureza e sua influência na alma do poeta”. (http://www.paralerepensar.com.br/catiapaiva_haicai.htm)
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